terça-feira, 13 de novembro de 2007

Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?

Fama não é sinônimo de conteúdo e o “anonimato” não é sinal de falta de história de vida. Muitos jogadores de futebol são verdadeiros mitos, heróis, ídolos! São pessoas que parecem inatingíveis. Muitos desses, porém, podem não chegar aos pés de outros jogadores que passam pelas ruas do Brasil sem serem reconhecidos. Mas que em outros países fazem a alegria de muitas pessoas e torcidas.

Esse é o caso do jogador Léo Monnerat. Ele começou a jogar bola quando tinha 10 anos, na escolinha de futebol de Teresópolis, cidade onde morava. Hoje, com 28 anos, o jogador pode olhar para trás e ver que construiu uma história com muita luta, muitos sonhos e muitas conquistas. Já passou pela Itália, Indonésia e Índia, onde acabou virando craque.

Confira a entrevista e conheça a história do jogador

Depois da escolinha em Teresópolis, como foi que você entrou no mundo do futebol profissional?

Fui para o Vitória da Bahia, para a categoria infantil. Estava com 13, quase completando 14 anos. Fui com os diretores do Vitória, pois eles estiveram jogando aqui no Rio o campeonato Brasileiro de juvenis, gostaram de mim e quiseram me levar para o clube. Foi uma luta para convencer os meus pais, porque eles se preocupavam também com os meus estudos. Quando estava no time, joguei um campeonato em São Paulo, e o Atlético Mineiro também estava na competição. Me destaquei, e eles me chamaram para ir para o Atlético. Como ainda não tinha me filiado ao Vitória, resolvi ficar mais perto de casa e aceitar a proposta.

Você em algum momento, quando apareceu a primeira oportunidade, teve dúvidas se teria coragem de deixar toda a sua família aqui para ir atrás do seu sonho de ser jogador de futebol?

Sabe quando você tem um sonho, e chega um dia alguém e lhe faz um convite para você realizá-lo?? Foi assim, eu nem pensei! Coloquei na minha cabeça que queria, lutei contra tudo e todos e consegui convencer minha família. No início foi muito difícil, quando cheguei lá, vi que tinha que ralar. Em casa eu tinha o meu quarto, as minhas coisas. Lá, tive que dividir com 10! Mas fiquei uns três meses só.

E depois, como foi no Atlético Mineiro?


Lá era mais tranqüilo, dormia só com mais 3 no quarto. Fiquei três anos por lá. Um no infantil e dois no juvenil. Nessa época que jogava no Galo, era muito difícil revelar jogadores, ainda mais da minha posição, pois só queriam zagueiros com experiência. Mas acabou aparecendo uma oportunidade de jogar no XV de Piracicaba. Eles foram buscar jogadores no Atlético e mostraram interesse em mim. Eu nem pensei, pois lá eu já entraria nos juniores e teria a chance de ir para o profissional. E como eles tinham o mesmo patrocínio que o Atlético, fui emprestado e em menos de três meses, eu estava no profissional do XV. Fomos campeões da série C do Brasileiro e eu estava muito feliz, pois tinha meu primeiro contrato de profissional. Depois fui emprestado para o Corinthians para disputar a Copa São Paulo.

Mas e ai, como foi no Corinthians?


O Corinthians na época estava largado, quem gerenciava a base era um grupo de empresários chamado Euro Sports. Não tive muita chance lá, pois quem jogava eram os atletas dessa empresa. Então voltei para o XV e continuei entre o profissional e os juniores. Foi então que uns empresários da Itália vieram ver alguns jogadores, e gostaram do meu estilo. Fui negociado no meio do ano em 1997, junto com o Luciano Emilio, que esse ano foi o artilheiro da MLS nos EUA. Nessa época, eu já estava quase completando 18 anos. Quem nos levou foi o José Altafini, aqui no Brasil ele é conhecido como Mazzola, foi campeão mundial em 58 pelo Brasil e em 62 disputou outra copa pela Itália. Ele é muito famoso lá, porque jogou nos melhores times da Itália.
Quando cheguei lá, me machuquei, tive que ficar quase dois meses parado, fazendo tratamento. Tive uma distensão na coxa. Foi um período muito difícil, pois eu pensei que eles iriam me mandar de volta para o Brasil. Os times começaram a contratar e como eu estava machucado, não fui para nenhum lugar. Quando melhorei, fui jogar pelo Trento. Fomos campeões da série C e no ano seguinte, disputei a série B. Foram quase três anos de contrato, mas que tive que romper, pois tive uns problemas na família e resolvi voltar para o Brasil.

E no Brasil, como foi?


Quando cheguei aqui, acertei com o Tupi de Juiz de Fora. Joguei o Campeonato Mineiro e, quando terminou, me ligaram da Itália para voltar para lá. Só que dessa vez para outro time. Quando cheguei lá, tinha mudado tudo. Tinha uma lei que proibia jogadores não europeus de jogar nas séries C e B. Fiquei dois meses treinando em um clube esperando para ver se mudavam a lei, só que como não houve mudança acabei aceitando um convite que recebi para ir para a Indonésia. Como a proposta foi muito boa e eu estava louco para voltar a jogar, nem pensei e fui embora para lá.

E a experiência de morar na Indonésia?

Fiquei 1 ano e 7 meses sem vir para casa. Foi muito difícil, pois lá eles falavam em inglês e indonésio, e eu italiano e português (risos). Lá é muito diferente mesmo! A estrutura totalmente diferente, o campo, a alimentação, religião , língua...

E como você fez? Como você conseguia falar com as pessoas?

Comprei um dicionário italiano/inglês e indonésio e fui me virando. Ficava em casa sozinho, treinando (risos). Eu morava com um africano, ele me ajudava no inglês, pois no clube, eu tinha que falar com os meus companheiros...imagina a comédia!

Mas você acabou acostumando com todas essas mudanças?!

Sim, eles amavam os brasileiros. Os estádios estavam sempre cheios! Foi legal! Foram 1 ano e 7 meses, quase morri na bomba de bali, depois disso eu não agüentei e vim embora... quase fomos pegos. Estávamos eu e mais seis brasileiros indo para a boate quando a bomba caiu. Foi horrível! Esse atentado, foi um ano, um mês e um dia depois do atentado às torre gêmeas

E quando voltou ao Brasil, tinha alguma proposta daqui?


Não! Mas estava precisando de férias! Vim descansar e caso não pintasse nada, voltava para lá. Fiquei três meses no Brasil e recebi uma proposta para a Índia. Aí voltei para a Ásia. Mas eu sabia que a Índia era bem mais tranqüila, que estava indo para um dos maiores times, que moraria bem, que tinham três brasileiros no time.

Quando você chegou lá, como foi? Ficou quanto tempo?

Fomos recepcionados no primeiro dia de treino por mais de 5ooo torcedores. O bom é que eu já falava inglês. Como eu não sou um zagueiro muito alto, tenho apenas 1,83, quando eles me viram, não me levaram muito a sério. Tive que recomeçar do zero. Mas graças a Deus, com a ajuda dos brasileiros lá, foi tudo mais fácil. No primeiro jogo eu fui muito bem. Substitui um zagueiro da seleção, desde então não saí mais do time e cai nas graças da torcida. Até hoje, torcedores de lá mandam recados para mim no orkut. Eles pedem para eu voltar, e isso não tem dinheiro que pague!!! Esse reconhecimento é muito bom! Lá em Calcutta o estádio tem capacidade para 120 mil pessoas. Na maioria dos jogos, sem ser um clássico, dá em media uns 40000 torcedores. Quando tem clássico chega a 90...100 mil...torcedores. O nome desse estádio é Salt Lake Stadium.

Como foi a emoção de jogar para um público tão grande assim? Você acredita que deve ser mais ou menos a mesma emoção que um jogador tem de jogar no Maracanã?

Acho que igual ao Maracanã deve ser impossível!! Mas foi uma emoção muuuuito boa! Nunca imaginei que o futebol na Índia fosse assim.Uma vez, eu sofri uma falta no ataque e os torcedores estavam calados, eu fui e pedi para que eles gritassem, para gritarem o nome do time, e eles se levantaram e começaram a chamar meu nome Lio...lio...lio... Foi demais!!! Você ser reconhecido fora do seu país é diferente. Lá, eu não podia sair nas ruas como aqui. Um gritava de um lado, outro vinha dar a mão...

E você gostou dessa parte da carreira? A fama?!

E quem não gosta??? Eu adorei! No meu primeiro clássico lá, eu fui eleito o melhor em campo... Tinham mais ou menos 88000 torcedores. Nós perdemos de 2 a 1. Acabou o jogo, fui agradecer a eles e eles gritavam meu nome. Foi emocionante! Acho que aquele dia vai ficar para sempre na minha memória! Quando acabou esse jogo, eu fui para o vestiário tomar banho, quando sai do estádio para entrar no ônibus, os torcedores tinham invadido a área do estacionamento. No começo fiquei com medo de sair, pois estavam misturados, mas como eles são passivos com a gente, pensei em passar por eles e entrar no ônibus. Quando comecei a andar no meio daquele povo todo, eles passavam a mão no meu rosto, na minha cabeça, ficavam querendo me tocar... Tanto os torcedores do meu time, como do adversário. Eu perguntava para o tradutor - o que eles estão falando????? E ele me disse...eles dizem que você tem que jogar para o time deles, pois você é muito bom! Acho que eu não dormi naquele dia. Meus filhos quando nascerem e meus sobrinhos quando crescerem irão escutar muito.

Mas por que você saiu de lá?!

Outra longa historia! Eu renovei com eles. Renovei bem, tanto que iria casar e tudo, mas um jogador “amigo” meu, me sacaneou! Eu tinha levado ele para a segunda divisão, contei para ele que tinha renovado e vim para o Brasil. Ele foi lá no clube e pediu metade do que eu tinha acertado e ficou no meu lugar...acredita? Mas se aconteceu é porque algo tinha, não era para eu ficar. Foi difícil entender na época, mas aconteceu! Ai voltei para o Brasil e acertei com o CFZ, time do Zico. Jogamos a terceira, fomos campeões. Renovei e joguei mais uma temporada.

E mesmo passando por decepções e dificuldades, você nunca se arrependeu de ter escolhido esse sonho, essa carreira, de jogador de futebol????

Nuncaaa! Te juro que pensei que era mais fácil. Mas eu cresci muito, aprendi muita coisa, fiz uma faculdade, que foi a faculdade da vida. Conheci novas culturas, pessoas diferentes, lugares também... Não trocaria por nada! Não me arrependo de nada!

E como está a sua carreira agora?

Depois do CFZ, fui disputar o campeonato paranaense da primeira, pelo Francisco Beltrão, de lá fui para Goiás disputar a série C pelo Luziania, da série C, fui jogar o goiano esse ano pelo Rioverdense. E agora estou treinando e esperando umas respostas que saem ainda esse mês e no seguinte, para saber se vou ficar aqui no Brasil ou se volto para fora. Estava certo de ir para o Kuwait em setembro, mas passou para dezembro... Vamos ver!

Quais são os sonhos que você ainda tem na sua carreira?!

Sonho ainda em jogar no flamengo. Sou flamenguista doente!

Como foi essa história de você já ter jogado com a seleção brasileira?!

Treinei com eles por 15 dias. Eu estava de férias em Teresópolis, e faltava um zagueiro na época, pois foi a primeira vez que o Felipão testava uma formação com três zagueiros. Eles queriam um jogador com experiência, e todos em Teresópolis me conhecem. Me chamaram e eu nem pensei. Fiz dupla com o Lucio na zaga. Foi bom demais! Com aquela atmosfera, me senti um deles!



*Fotos: Arquivo pessoal
** Para quem quiser saber um pouco mais sobre o jogador: www.leomonnerat.teresports.net

31 comentários:

Anônimo disse...

Matéria boa!

Até eu já sonhei em ser jogador de futebol , mas depois decidi que era melhor não sonhar tanto...

Eu como bom atleticano que era, sempre sonhei jogar no galo. Eu era goleiro e advinha como eu era meu uniforme...


A camisas do Taffarel ....yhehehhehhe


Boas épocas.... até 14 anos (com a camisa do famoso goleiro) e até 16 jogando nas categorias de base do Ateneu (time de montes claros-mg)...

A determinação do futebol me ensinou muitas coisas...


grande abraço!

Luiz Paulo disse...

qm nunca sonhou em ser jogador de futebol? eu queria, até me dar conta de que eu era mó perna-de-pau...

abraços

Antonio † disse...

eu nunca quis ser jogador de futebol.
nem passa na minha cabeça;
lgws a interview ;*

Unknown disse...

História dele é muito mais interessante q a de muito jogador que está em evidência.
Uma pena que história apenas não trás reconhecimento...

http://opacotedebolacha.blogspot.com/

Rafael Garça disse...

muito bacana a historia dele!!!


boa sorte!

Climão Tahiti disse...

Pena que ele não foi convocado.

Ele parece ter a cabeça no lugar, ao contrário dos que estão com a estrelinha na cabeça.

Boa entrevista.

RAFAELA CARO disse...

Nanda, descobrir essas pessoas é aprender que todo mundo tem uma história... e que algumas são surpreendentes! Vc está cada dia melhor... dar destaque a estas pessoas que não "existem" para a mídia é muito interessante. O Brasil realmente é uma fábrica de craques né nao? Bjsssssssssssssss

Anônimo disse...

Pois é, como ele, centenas saem antes de se profissionalizar. Ainda crianças vão para a Ásia e Europa. Alguns de dão bem outros não. Uns são abandonados lá a própria sorte, a minoria desponta como craque e enriquece.

Anônimo disse...

Parabéns pela entrevista!!!! Vc tem futuro... Espero que esse jogador também, pois tem uma bela história!! "Não é fácil ser jogador de futebol!"

Johnny M. disse...

A maioria das pessoas liga jogador de futebol a carrões, dinheiro, mulheres, glamour, e nós sabemos que aqueles que conseguem atingir esse grau de sucesso, o topo, são apenas uma pequena porcentagem, 5% talvez. A maior parte dos jogadores de futebol no Brasil recebem salário e tem condições precárias de vida.

Anônimo disse...

o valor da sua entrevista está aí.conseguir assunto com os jogadores famosos e´"mole". vc conseguir prender nossa atenção com um desconhecido.parabéns e boa sorte,beijos ARNALDO BONNARD.

Anônimo disse...

Eu conheço essa vida, pois tbm tentei ser um profissional e como sou amigo ìntimo do Lèo sò tenho a dizer que ele é um exemplo de para muitos...porque nao é fàcil essa vida nao...sò se fala em Gaùchos e Kakas da vida por aqui, porém realmente eu posso comprovar que ele é um ìdolo na ìndia para muitos. Buscar e conseguir prestìgio fora de casa é para poucos...e ele conseguiu com muita luta e dedicaçao...PARABéNS !!! Esta aì o resultado de tanta dedicaçao, mais que merecido !!!
Parabenizo tbm a equipe de reportagen por fazer essa esplendida matéria !!!

Anônimo disse...

Texto de cima escrito por Alexandre Amora " Amigo de Leonardo "

Anônimo disse...

É VERDADE..CONCORDO COM TUDO Q FOI DITO

young vapire luke lestat disse...

Ifelizmete , isso acontece com vários crakes do footboll,faltou um bom empresário e um pouco de sorte.


[]s L.Sakssida

Bruno Vox disse...

Meu sonho era ser goleiro do Cruzeiro, mas não deu certo. Não por minha deficiencia tecnica, mas por falta de coragem mesmo.

Carlos Vin disse...

Massa!
Boa matéria... Ele jogou no vitoria qdo era guri... Eu sou de salvador e torço pro Bahia.. fiquei com raiva dele (hehe..)
Vc sabe, o vitoria subiu pra serie A e o meu bahia ta na terceirona ainda (é foda)...

parabens aí, gostei da entrevista
vou passar por aqui de vez em qdo
um abraço!


Se quiser entra lá no meu blog tb:
http://defecarparireumaideia.blogspot.com/

Gabriel Leite disse...

A matéria ficou ótima, mas por incrível que pareça eu nunca tive o sonho de ser jogador de futebol.
Nunquinha.

Zanfa disse...

Bela matéria!

Esse cara sim teve seus altos e baixos ein?

Não conhecia ele não. ;)

Rafael Filho disse...

Nossa, também não o conhecia, acho que toda criança que gosta de futebol sonha em um dia ser jogador de futebol.Esse cara foi muito lutador e conseguiu ser o que queria.

MiGuEL OLiVeiRA disse...

boa materia mesmo, nao conheci essa cara, ate agora xD
uma mostra de determinação

Anônimo disse...

finalmente li a última entrevista totalmente. Está maravilhosa!!!!! cada vez melhor!!!!! beijos.

J-Who? disse...

Boa materia!!!

Dorian disse...

Ser jogador (famoso e com dinheiro)é um sonho que só poucos conseguem. Aliás, é preciso sorte e talento para alcançar o sucesso.
Parabéns pelo post.

Juliana Farias disse...

Boa matéria, coleguinha!!

Voltarei mais vezes!

Frank HW disse...

Blog bem legal e de conteudo!
Gostei da história! Bem detalhada!

Abração!
Kemp

RENATO BIAO disse...

bacana mesmo...prendeu minha atençaõa com uma história interessantíssima.voltarei por aqui!!!

Unknown disse...

Bacana você mostrar o outro lado de ser um jogador de futebol. Os famosos são bacanas, mas as vezes não tem o que dizer, o entrevistado tem conteúdo...o que fez a entrevista ficar muito interessante.
Menina tu está cada vez melhor,o tanto de comentários mostram isso. Fico orgulhoso por ter te incentivado a fazer o blog. Todos mereciam, ou melhor, merecem ler os seus textos.

Bjsssss e Sucesso!
http://www.somdosom.com/

Gabriel Leite disse...

Já comentei nesse...
Vou comentar no de baixo.

Gabriel Leite disse...

Pode deixar que hoje ainda publico o filme no Frenesi!
Beijos

César Schuler disse...

eu sou definitivamente um ANORMAL...

nunca sonhei em ser jogador de futebol :D